07/06/2012 às 17h08min - Atualizada em 07/06/2012 às 17h08min

Artigo de André Tertuliano - Do cinema que temos ao cinema que queremos: uma questão de foco

Nomenclatura inverossímil é ruim, porém esquecer da luta necessária para corrigi-la é erro grave. 

O cinema que temos
A pouco tempo atrás se tornou foco de discussão um possível 1° Cinema de Maricá  que estaria sendo construído pela prefeitura. A polêmica rendeu. Muitos reivindicam que o marco histórico não é real, pois já existiram outros cinemas no município (o que é verdade), e que tal título seria uma manobra panfletária do atual governo. Por outro lado, defendia-se que esse seria sim o primeiro cinema municipal/público de Maricá, algo que se de fato acontecer será um importante marco para a cultura do município, pois em um país que as salas de cinema são cada vez mais raras, construir um cinema público ( e espero que gratuito) é sim algo para se comemorar.

Acredito que a discussão acima seja útil para muitos que querem tornar a construção do cinema um fato politico em  um ano propício. É uma opção, uma questão de escolha. Porém, mudemos o foco.
A construção de um cinema público em qualquer munícipio que a proposta seja levantada deve vir casada com a seguinte discussão: A quem servirá esse cinema? Ou melhor: A quem o cinema deveria servir?

Defendo uma prática de cinema libertária que trabalhe com a população, em especial a juventude, o protagonismo, a necessidade de fazer da arte um retrato da sua realidade aonde os anseios sociais, artísticos, juvenis, sejam postos na tela e problematizados. Deveríamos nos perguntar qual o caráter que deve ter uma iniciativa como essa. Essa sim seria uma boa discussão, algo que despertaria e nos levaria a uma construção coletiva de algo que teoricamente, está sendo construído para nós. 

O cinema e a coletividade
Temos por todo país exemplos de iniciativas de jovens que se organizam em coletivos, cineclubes, produtoras independentes, etc para produzir cinema, para transportar suas vontades das mentes para as telas. E em Maricá, o que temos?

Talvez não seja de conhecimento de muitos, mas temos excelentes profissionais de cinema no nosso município. Diretores, fotógrafos, montadores, atores, enfim, um sem número de profissionais que poderiam estar atuando no nosso município, mas que inevitavelmente migram sua vida para os grandes centros em virtude da  inexistência de iniciativas relacionadas a cinema na cidade. Talvez a abertura do cinema seja um pontapé para que isso comece a mudar.

Deveríamos com isso focar a discussão em construções de iniciativas de produção de cinema e vídeo que podem vir de vários lados, de inúmeras partes.   

Vamos a alguns exemplos:
·      Na década de 80, no Rio de Janeiro, existiu um programa chamado MUNICINE, que consistia em aulas de cinema para alunos da rede pública, dadas por cineastas e em horário regular. Isso hoje em dia não seria nem um pouco difícil se pensássemos em uma integração dos professores de diversas disciplinas com os cineastas que estivessem dispostos a atuar em escolas. Em Maricá isso é possível. 
·      Atualmente em diversos municípios do Brasil, jovens cineastas dão oficinas em escolas, associação de moradores, espaços culturais para incentivar a produção audiovisual, algo que tem dado muito certo e tem gerado frutos como festivais de cinemas, cineclubes e construção de cinemas em mutirão. Em Maricá isso é possível!
·      Ocupações de salas de vídeo em espaços diversos tem gerado uma possibilidade de uma formação de público diversificada que inevitavelmente tem aberto espaço para um cinema com uma lógica narrativa diferente da que fomos acostumados a “receber”. Em Maricá isso é possível!

Iniciativas como essas justificariam, de uma forma consciente e responsável, a construção e ocupação de uma sala de cinema verdadeiramente popular, pois só com iniciativas de apoio e incentivo a produção cinematográfica local poderíamos ver a cidade respirando cinema de uma forma libertadora.

É necessário e urgente a construção de iniciativas cinematográfica/audiovisual no município para que ao término de sua construção tenhamos uma sala ocupada por um cinema que seja realmente nosso, feito de nós para nós e não mais uma sala de cinema que não dialoga em nada com o que queremos e lutamos.

Em Maricá isso é possível... Esse é o cinema que queremos!

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