15/07/2016 às 12h56min - Atualizada em 15/07/2016 às 22h23min

Maricaense é a esperança de medalha de ouro para o Brasil no Rio 2016; Veja o vídeo

Nesta quinta-feira (14), a série de reportagens do Jornal Nacional, da Rede Globo, com os atletas olímpicos mostrou a história de um jovem maricaense que aos 14 anos de idade entrou pra elite do esporte brasileiro. Uma arte ancestral com tecnologia de Fórmula 1. Um esporte em que as aparências enganam. A flecha é de fibra de carbono ultra resistente. Ou será que é de borracha? Marcos d’Almeida é um adolescente que ganhou um brinquedo. Ou será que é um campeão com carinha de menino? Junto com ele, nós vamos atrás das respostas. Vamos conhecer os segredos de um talento do tiro com arco. O olhar é de pedra. Os movimentos são de artista. Ele faz a coisa parecer fácil. “O adversário olha para ele, é como se ele não tivesse acontecendo nada”, diz o técnico, Evandro de Azevedo. “Ele não transmite como se ele estivesse fazendo um exercício muito pesado, mas na verdade está”. Marquinhos carrega 20 quilos; 20 quilos em três dedos; 20 quilos em três dedos, 400 vezes por dia. E enquanto os dedos fazem força, o braço tem que estar relaxado, imóvel. Tarefa de quem nasceu pra isso. E ele nasceu pra tanta coisa... “Eu pratiquei natação, jiu-jitsu, vela, remo, são tantos que eu me perco, às vezes”, conta Marcos. Faltou pelo menos um. Entre uma onda e outra o mundo iria descobrir um brilho escondido nas areias de Maricá. Foi na cidade a 60 km do Rio de Janeiro que a Confederação de Tiro com Arco montou um centro de treinamento. O lugar foi preparado para receber gente do Brasil inteiro. Ninguém podia imaginar que o maior talento brasileiro morava a um quilômetro dali. “Uma criança como qualquer uma. Chega aqui, quer fazer o tiro com arco. E ficava me olhando, me olhando”, diz a primeira treinadora, Dirma Santos. “O Marcos, sem dúvida, pareceu no momento certo. É um pouco de sorte, sim. A gente encontrou o Marquinho nesse caminho, mas também houve um trabalho muito grande em cima dele”, conta o treinador. Os pais achavam perfeito. Um esporte tranquilo, pertinho de casa, para manter o menino ocupado. Até que, um dia, o telefone tocou. “Quando eu atendi o telefone ele só falou assim: ‘Mãe’? Aí eu falei: ‘Oi?’ ‘Cê já sabe né?’ Eu até me arrepio até hoje quando eu falo. Quando ele falou ‘Você já sabe’, olha... Mas eu chorava, eu ria, eu ria, eu chorava, eu não sei nem te explicar o sentimento que eu tive”, lembra a mãe, Denise Carvalho. Era a convocação para a Seleção Brasileira. O riso veio misturado com o choro porque isso significava morar sozinho, em Campinas, a 500 quilômetros de casa, aos 14 anos. “Os três primeiros meses foram muito difíceis para mim. Eu estava longe da minha família, longe de todo mundo, do meu círculo de amizade. Eu cheguei numa casa que eu não conhecia ninguém, meu técnico não falava português”, conta Marcos. Num fim de semana de folga, até a família pensou em desistir. “Ele chegou no domingo, ele começou a chorar na minha sala. Isso até me emociona. Eu falei pra ele: ‘Meu irmão, quer parar?’ Ele falou: ‘Pai, não. Eu vou em frente’, e foi”, lembra o pai, Marcus D’Almeida. O arqueiro parece um super-herói. Mas foi sem o arco e sem a flecha que Marquinhos provou ser um herói de verdade. “Com 14 anos, chegou na hora, ele deu um beijo, foi, nem olhou para trás”, diz a mãe. “Ele cresceu, de 14 anos, quando ele chegou aqui em casa, com 15 anos, já era um homem”, diz o pai. 240 quilômetros por hora. O voo da flecha até o alvo é tão rápido que o olhar humano mal consegue acompanhar. E nem mesmo o olhar treinado dos arqueiros conseguiu notar um outro voo: em apenas dois anos, o Brasil se juntou à elite desse esporte. No tiro com arco, essa ascensão é considerada tão rápida quanto a viagem da flecha. É muito brilho para pouco tempo. São só dois anos de conquistas internacionais. “Em 2013, eu não tive resultado nenhum. Em 2014, eu apareci ganhando todas as medalhas de ouro no sul-americano, a primeira coisa assim que apareceu”, conta Marcos. O pescoço não descansou desde então, sustentando medalha e mais medalha. Segundo lugar na Olimpíada da Juventude, e segundo lugar na Copa do Mundo, competindo com os melhores do planeta. Um menino entre os gigantes. Foi campeão mundial juvenil em 2015. E, em 2016, milhões de pessoas, em todo o planeta, vão olhar para ele. Todos vão pensar que ele está olhando para o alvo. E esses olhos vão surpreender o mundo mais uma vez. “Um arqueiro que tem uma boa visão e não tem a noção de onde focar, vai focar no lugar errado. O local errado para ele focar é o alvo. O arqueiro sempre tem que focar no que ele está fazendo, tem que voltar toda a sua concentração e seu foco para dentro de si”, ressalta o treinador. No tiro com arco, mais importante que a visão, é a repetição. E Marquinhos não se cansa de repetir o mesmo gesto, com precisão milimétrica. Dia desses o pai acordou às 2h com esse barulho no quintal. “O cara estava treinando, porque estava calor no quarto dele. Falou: ‘Pai, tá calor aqui eu vim treinar’”, conta o pai. O arqueiro solitário ama o silêncio. Conversa o tempo todo com ele mesmo: “Se fosse um esporte de conjunto, você pode perguntar ao próximo. Mas aqui, não. Eu tenho que perguntar a mim. E isso eu gosto muito porque a cada dia eu aprendo mais sobre mim”. Daqui a alguns dias, o Sambódromo vai fazer silêncio para receber os arqueiros olímpicos. Mais uma vez, o menino brasileiro vai provar que nesse esporte as aparências enganam. A ideia é dominar uma arma, um antigo instrumento de guerra e de caça. Mas, nas mãos de Marcos d’Almeida, o arco é um instrumento e o voo da flecha parece música. Veja a reportagem completa no vídeo abaixo
Tags »
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Fale pelo Whatsapp
Atendimento
Precisa de ajuda? fale conosco pelo Whatsapp