23/12/2017 às 09h22min - Atualizada em 23/12/2017 às 09h22min

Servidora do Estado, moradora de Maricá, percorre quase 70 quilômetros para garantir cesta básica


[gallery columns="1" link="none" size="full" ids="141034"] O GLOBO- A dificuldade motivada pelos recorrentes atrasos nos salários fez uma senhora sair de Maricá, onde mora, em busca de uma das 200 cestas básicas, em média, distribuídas por sindicatos a servidores do Estado do Rio nesta sexta-feira. Mara Cezar Figueiredo, de 61 anos, ouviu falar da ação e imaginou que aconteceria no Centro do Rio, onde já conseguiu o benefício outras vezes. Ao chegar lá, no entanto, foi informada que dessa vez a campanha era em Quintino, bairro que ela sequer conhecia, e que fica a quase 70 quilômetros de distância de Maricá. Ao todo, foram cerca de 3 horas e 30 minutos de viagem para garantir um kit com dois quilos de arroz, um quilo de feijão, dois quilos de açúcar, quatro pacotes de macarrão, um pacote de fubá, uma garrafa de óleo e, em alguns casos, leite em pó. - Falei para a pessoa que me indicou o lugar: "Nem sei onde fica isso. Mas quem tem boca vai a Roma". Ela me ensinou o que fazer e eu vim, pois estou passando muita necessidade. Lá em casa só tem a minha renda para sustentar o meu filho desempregado, a esposa dele e um bebê de 10 meses. Não está dando. Eu perdi minha mãe há um ano e ela me ajudava muito nesses momentos: colocava mantimento dentro de casa, ajudava em contas de luz. Acho que só não entrei em depressão pois tenho muita fé em Deus. Mas perdi até peso por conta dessa situação. Pedi empréstimo já para não atrasar o pagamento da conta de luz, pois tenho medo de ser cortada. Dependo da energia para ter água, pois vem de poço artesiano. Não dá para ficar sem as duas coisas - lamentou. A situação na casa de Mara é de total racionamento. - Está difícil colocar comida dentro de casa. Uma mãe responsável fica apreensiva se não consegue isso. A fome é uma coisa que a gente não controla - disse ela, contando que para a mesa conta com a ajuda de uma igreja: - Estou ganhando cesta da Igreja Católica de Maricá. Me ajudam muito. Religiosa, ela se entristece com o impacto da crise em seu Natal, mas o fator decisivo não é exatamente o tamanho da ceia que será feita. E sim a alegria que falta. - Não comprei nada para o Natal. Sinceramente, meu coração está apertado por isso. Eu considero o Natal união, amor, justiça social. E fiquei tão abatida com a crise que nem montei minha árvore de Natal. A dor contrasta com o que ela sentiu ao passar no concurso público estadual. - Para os governadores, o dinheiro é muito fácil. Para a gente que é trabalhador, não. Eu fiquei a pessoa mais feliz quando passei para o concurso público do Estado. Era meu sonho, mesmo ganhando pouco. Agora ficou assim. Mesmo assim, eu amo trabalhar naquele hospital - disse ela, emocionada.
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