30/10/2010 às 10h21min - Atualizada em 30/10/2010 às 10h21min

Servidor do BB de Maricá afirma à PF que acessou dados bancários de Eduardo Jorge por engano

BRASÍLIA - Em depoimento prestado à Polícia Federal (PF) na última quarta-feira, o servidor do Banco do Brasil em Maricá (RJ) Márcio Vinícius Alves afirmou que acessou por engano os dados bancários do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas Pereira. Os acessos aos dados bancários do dirigente tucano ocorreram no dia 26 de março deste ano às 11h30m. O servidor atualmente está lotado em agência do BB em Niterói (RJ).

No depoimento, o servidor argumenta que recebeu uma reclamação de um cliente "repassada pela telefonista da agência, questionando um depósito não creditado". Ele disse que recebeu as informações do suposto cliente reclamante em um pedaço de papel, com o nome, agência, conta e valor do depósito questionado. Porém, ao fazer o acesso, verificou que o nome informado não batia com o correntista cuja conta foi acessada. A conta corrente era de Eduardo Jorge. A advogada de Eduardo Jorge, Ana Luísa Rabelo Pereira, considera a argumentação inaceitável e acusa o servidor de ter realizado acesso imotivado.

Não há a menor dúvida de que foi um acesso imotivado. O Banco do Brasil está obrigado a investigar a fundo e de maneira definitiva os motivos pelos quais as informações da conta corrente do meu cliente foram acessadas em Maricá.

Em ofício encaminhado pelo Banco do Brasil à Polícia Federal, no último dia 21, o BB afirma que o sistema acessado na agência de Maricá permite a visualização de informações dos seis meses anteriores ao acesso. Afirma ainda que o procedimento adotado pelo servidor estava "em compatibilidade com as funções por ele desempenhadas". Entretanto, o Banco do Brasil não faz menção à possibilidade de erro, nem mesmo dá explicações sobre quais dados bancários do tucano foram acessados e se houve impressão ou gravação das informações que apareceram na tela.

Em 3 de setembro, o GLOBO revelou que a a Polícia Federal estava investigando uma suposta ação ilegal no Banco do Brasil para violar as contas bancárias de Eduardo Jorge. A denúncia foi feita pelo próprio Eduardo Jorge em depoimento prestado à PF em 5 de agosto. Ele atribuiu o vazamento ao comitê da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff. Ainda em 3 de setembro, o BB confirmou que recebeu um ofício da Justiça a respeito do assunto.

Também no mês de setembro, o banco encaminhou um ofício à Polícia Federal confirmando que houve cinco acessos às informações bancárias do vice-presidente do PSDB: quatro deles em Brasília, na agência bancária do próprio Eduardo Jorge, e outro em Maricá. À PF, o banco forneceu informações genéricas sobre os motivos pelos quais os dados do correntista foram analisados. Em nota divulgada na época, o BB disse que todos os servidores estavam cumprindo com suas funções e negou qualquer irregularidade.

Também na última quarta-feira a Polícia Federal recebeu ofício da agência de viagens Primus, que presta serviços ao jornal "Estado de Minas" e que foi responsável pela emissão dos bilhetes de viagem do jornalista Amaury Ribeiro Júnior, de Belo Horizonte para São Paulo, com escala em Brasília, nas datas em que dados fiscais de tucanos foram violados em delegacias da Receita Federal em Mauá e Santo André, na Grande São Paulo.

No ofício, a agência admite que o funcionário Marcelo Oliveira, que comprou os bilhetes para Amaury, não apenas prestava serviços ao jornal, como também "comprava passagens e serviços para alguns diretores e funcionários quando em viagens particulares" e ainda esclarece que foi Amaury Ribeiro Júnior "o responsável pelo pagamento do serviço contratado".

Mesmo assim, Marcelo Oliveira ainda não foi intimado a depor no inquérito que investiga a quebra de sigilo. A polícia, por outro lado, passou a ter interesse nas empresas em nome de Eduardo Jorge, Verônica Serra, o marido dela, Alexandre Borgeois, além do ex-diretor do Banco do Brasil Ricardo Sérgio e do ex-ministro das Comunicações Luís Carlos Mendonça de Barros. A solicitação foi feita no dia 27 e, no mesmo dia, a polícia já tinha uma relação completa das empresas em que as vítimas da quebra de sigilo aparecem como sócias.

Na tarde desta sexta-feira, também estão intimados a depor na Polícia Federal o empresário Benedito de Oliveira Neto e o sargento da Aeronáutica Idalberto Matias Araújo, o Dadá. Os dois foram chamados no início do ano para trabalhar na pré-campanha da ex-ministra Dilma Rousseff (PT) e participaram, em abril, de uma reunião com o empresário Luiz Lanzetta, dono da Lanza Comunicação, o jornalista Amaury Ribeiro Júnior e o delegado aposentado Onésimo Souza.

A PF, no entanto, não intimou o coordenador de comunicação da campanha de Dilma Rousseff, o deputado estadual Rui Falcão (PT-SP), apontado por Amaury como a pessoa que furtou de seu computador pessoal informações que ele levantava contra tucanos, especialmente dados relativos às privatizações ocorridas durante o governo Fernando Henrique.

Fonte: Jornal O Globo


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