06/07/2021 às 22h01min - Atualizada em 07/07/2021 às 10h00min

Polícia investiga suposto estupro em boate do deputado e ex-vereador de Maricá, Filippe Poubel

Foto: G1 / Montagem: LSM

A Polícia Civil investiga se houve um estupro dentro de uma boate em Cabo Frio, na Região dos Lagos. A casa noturna, que não poderia funcionar por causa da pandemia, pertence a um capitão da Polícia Militar e ao deputado estadual Filippe Poubel, do PSL.

O caso aconteceu em 8 maio, véspera do Dia das Mães, e corre em sigilo. Até agora, o deputado não prestou depoimento.

A mulher que faz a denúncia, que por segurança não será identificada, conta que saiu do Rio e foi até Cabo Frio passar o final de semana com a família.

No sábado, 8, encontrou alguns amigos e foi a uma festa clandestina que acontecia dentro de um restaurante, que também funciona como boate: o Buda Lounge. A entrada, segundo ela, era pela cozinha – e ninguém podia usar o celular.

O funcionamento de boates e espaços de dança estava proibido na cidade por causa das medidas de proteção contra o coronavírus.

Além de Poubel, eleito pelo em 2018 com 27 mil votos, são donos do espaço outros dois sócios: Diogo Souza da Silveira e Ediléia Freire Cecconi. Ediléia aparece nas redes sociais como vendedora de bolo e pirulitos personalizados.

Diogo Souza se descreve nas redes sociais como “Capitão Diogo”, oficial da Polícia Militar. Em um vídeo, divulgado em abril desse ano, ele diz que pediu demissão da PM por ter “visto e vivido injustiças”. No entanto, segundo a PM, ele continua na corporação. Em 2018, Capitão Diogo foi candidato à Prefeitura de Cabo Frio pelo PSDB e ficou em quarto lugar, com 3,7 mil votos.

Diogo e Poubel são amigos e aparecem em várias fotos juntos dentro da boate em que são sócios. Numa delas, estão juntos com outros políticos, como o deputado federal Carlos Jordy (PSL) e o vereador Gabriel Monteiro (PSD).

O QUE DIZ A MULHER

A mulher conta que esteve na boate em Cabo Frio, ingeriu bebida alcoólica, ficou inconsciente, e que foi vítima de abuso sexual praticado por dois funcionários do local. Segundo testemunhas, o deputado e o PM estavam na boate no dia.

“Eu misturei, tinha bebido vodca, comecei a beber um drink pronto com energético. Eu bebi vários desses. Mas isso nunca aconteceu comigo de entrar em coma alcoólico e apagar dessa forma, isso nunca tinha acontecido antes”, contou ao RJ2.

Ela conta que, quando acordou, já estava no segundo andar da boate.

“Eu tinha uma ideia que o segundo andar era tipo uma espécie de área VIP, camarote, algo assim que me chamaram, não lembro realmente como fui parar lá. Lembro quando uma amiga chegou lá em cima tentou me acordar, não consegui e vi um vulto, um deles estava de uniforme, ainda assim continuei apagada”.

Um homem, que também pediu para não ser identificado, conta que procurou pela amiga e a encontrou jogada em um sofá.

“A gente subiu, até então, nesse espaço estava fechado em obras, e não tinha nenhum tipo de isolamento, segurança ou nada que não deixasse entrar. Subimos e, quando chegamos, era um lance de escada e lembro de ter visto ela jogada no sofá, de perna aberta, desacordada, na frente dela tinha dois caras. Era um lugar muito escuro, que estava desativado"

Ele conta que tentou buscar ajuda, mas foi impedido pelos seguranças do deputado Filipe Poubel. E que o próprio deputado o xingou.

“Tinha cerca de 7 seguranças ali dele mesmo, eles me seguraram, tentando me agredir, me deram como se fosse um mata-leão. Estavam o tempo todo usando palavras de injúria e homofobia. E ele gritava, dava pra ouvir perfeitamente", conta.

Uma outra testemunha, que também prestou depoimento, contou uma versão parecida. Que se deparou com a amiga deitada num sofá, de vestido preto, perna aberta e que a calcinha dela estava para o lado. A testemunha disse não ter visto se a amiga estava suja e que, na frente dela, estavam dois funcionários da casa.

O caso foi registrado na delegacia da mulher de Cabo Frio. O RJ2 tentou entrevistar a delegada, mas a polícia respondeu que a investigação está em sigilo. A equipe de reportagem apurou que, até esta terça-feira (6), oito pessoas haviam prestado depoimento.

Só em julho, mais de um mês depois que o registro de ocorrência foi feito, policiais estiveram na boate e apreenderam o sofá para que uma perícia fosse feita.

A vítima fez um exame toxicológico e deixou o vestido, que foi usado no dia, no Instituto Médico Legal, mas o resultado do laudo ainda não saiu.

“É mais do que necessário o comparecimento de todos para auxiliar nessa investigação. Mas o cenário que aparece é outro, proprietários não aparecem em sede policial, permanecem em silêncio e quando se apresentam colocam como se a mulher fosse culpada. Não juntam as câmeras de segurança, o sofá onde foi o delito não é apresentado. E o pior continua funcionando como se nada tivesse acontecido”, diz a advogada Letícia Delmindo.

“Além do abalo e prejuízo eu estou tendo, ainda estou abalada, eu quero resolver, quero a responsabilidade, a resposta.”

FUNCIONÁRIOS NEGAM

O RJ2 teve acesso ao depoimento dos funcionários que foram acusados pela vítima. Um deles disse que abordou a mulher, foi correspondido e que ficou com ela por um tempo próximo ao balcão da boate.

À polícia, o funcionário negou ter tido relação sexual e disse ter sido ameaçado de morte por traficantes da comunidade onde mora caso ele tivesse "culpa no cartório". Ele negou todas as acusações da vítima.

O outro funcionário disse que não esteve onde supostamente aconteceu o caso, no segundo andar, que não sabe quem esteve no local e que não conhece a vítima.

Capitão Diogo também prestou depoimento. Ele disse que a mulher insistiu em falar com ele, e se insinuou, dizendo que queria beijá-lo. O dono disse que foi para um dos camarotes, para evitar as investidas, e que depois disso não a viu mais. Meia hora depois, ele viu que estava acontecendo um tumulto.

Capitão Diogo contou que a mulher veio falar com ele novamente, dizendo estar com vergonha. O policial disse que a vítima estava consciente, que perguntou pra ela o que tinha acontecido, mas que ela não falava. Ele não se lembra se a mulher estava chorando.

O deputado Filipe Poubel já foi intimado, mas não compareceu à delegacia.

O RJ2 foi atrás do deputado na Assembleia Legislativa, mas não o encontrou. Ele enviou um vídeo no qual disse que no dia da acusação a boate recebia uma festa particular, sem bilheteria e que ele estava lá para cuidar da parte administrativa. O deputado disse ainda que não foi notificado oficialmente para o depoimento e que se compromete a prestar depoimento de maneira voluntária para "prestar todos os esclarecimentos possíveis". "Não sou homofóbico, inclusive tenho funcionários no meu gabinete que são homossexuais".

“Eu nunca imaginei que isso fosse acontecer lá dentro. Eu achei que fossem se responsabilizar pela segurança de quem estava lá. Não foi isso que aconteceu, estão se isentando de responsabilidade. Os dois donos, um capitão da polícia e um deputado, eles têm conhecimento da lei. E está sendo totalmente o contrário que está acontecendo”, diz a vítima.

A PM diz que o capitão Diego está lotado no 22º BPM (Maré), em processo de demissão a pedido.

Fonte: RJTV/InterTv/G1


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