23/11/2014 às 16h42min - Atualizada em 23/11/2014 às 16h42min

RJ-106 tem pistas perigosas e malconservadas

Ligando São Gonçalo a Macaé, passando por Maricá, a via tem asfalto em péssimo estado, sinalização precária, e muretas rachadas.

[caption id="attachment_50365" align="alignleft" width="300"]
O acesso a Ponta Negra é um dos pontos de risco da RJ-106. Para minimizar o problema, o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) está construindo um trevo no local, mas as intervenções têm deixado o tráfego ainda mais confuso, com o vaivém de caminhões e outros veículos pesados nas pistas já perigosas - Marcelo Piu - O Globo

O acesso a Ponta Negra é um dos pontos de risco da RJ-106. Para minimizar o problema, o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) está construindo um trevo no local, mas as intervenções têm deixado o tráfego ainda mais confuso, com o vaivém de caminhões e outros veículos pesados nas pistas já perigosas - Marcelo Piu - O Globo

O acesso a Ponta Negra é um dos pontos de risco da RJ-106. Para minimizar o problema, o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) está construindo um trevo no local, mas as intervenções têm deixado o tráfego ainda mais confuso, com o vaivém de caminhões e outros veículos pesados nas pistas já perigosas - Marcelo Piu - O Globo[/caption]

Se a RJ-106 (Rodovia Amaral Peixoto) fosse um paciente, ela seria aquele tipo de doente que está na UTI respirando com a ajuda de aparelhos. Mesmo sendo muito utilizada por motoristas que desejam seguir para a Região dos Lagos como alternativa para não pagar pedágio na Via Lagos, a RJ-106 é o retrato do descaso entre as estradas que ainda são administradas pelo estado. Para se chegar a essa constatação, o diagnóstico é simples. Ligando São Gonçalo ao município de Macaé, a via, com extensão de 188 quilômetros, tem asfalto em péssimo estado, sinalização precária, e, no trecho duplicado, muretas rachadas. A sujeira também dificulta a vida do motorista, já que a areia às margens da pista invade parte da estrada.

Depois do Km 26, o desafio para o motorista aumenta. A partir desse trecho, onde está a entrada do município de Maricá, as condições rodoviárias continuam péssimas, principalmente, por não haver iluminação ao longo da via. O problema se agrava pelo fato de a estrada não ser duplicada. Além de não existir um acostamento para os cerca de 22 mil motoristas que passam pelo local diariamente, há trechos onde o matagal do canteiro invade o espaço destinado aos carros.

No caminho entre os Kms 26 e 41, a equipe do GLOBO flagrou 18 motoristas fazendo ultrapassagens em locais proibidos. Um deles por muito pouco não bateu de frente num carro que vinha em sentido contrário. Nem a recente alteração do Código de Trânsito Brasileiro — que a partir do início deste mês aumentou para quase R$ 2 mil a multa para ultrapassagens perigosas — foi suficiente para coibir as bandalhas.

— Esse trecho é muito problemático. Quando um motorista encontra um veículo à frente, que está mais lento, ele não espera para fazer ultrapassagem no local onde é permitido. Geralmente, quando somos acionados, já imaginamos que são os dois veículos que colidiram de frente. Infelizmente, é recorrente esse tipo de batida no trecho. A imprudência dos motoristas em uma estrada malconservada não poderia resultar em outro panorama — lamenta o sargento Luis Matos, do Corpo de Bombeiros de Maricá.

[caption id="attachment_50367" align="aligncenter" width="699"]
No trecho após Maricá, onde a rodovia não é duplicada, motoristas se arriscam em ultrapassagens perigosas. A estrada registra alto índice de acidenteS - Marcelo Piu - O Globo

No trecho após Maricá, onde a rodovia não é duplicada, motoristas se arriscam em ultrapassagens perigosas. A estrada registra alto índice de acidenteS - Marcelo Piu - O Globo

No trecho após Maricá, onde a rodovia não é duplicada, motoristas se arriscam em ultrapassagens perigosas. A estrada registra alto índice de acidenteS - Marcelo Piu - O Globo[/caption]

Outro ponto crítico ocorre na entrada de Ponta Negra, distrito do município de Maricá. Ali, há um cruzamento muito próximo de uma curva que obriga os carros que estão vindo da Região do Lagos, e desejam seguir caminho para Ponta Negra, a cruzarem a pista. Não há qualquer sinalização para orientar os condutores. Para amenizar o problema, o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) está realizando uma obra que prevê a construção de um retorno previsto para ser concluído até o fim deste ano, o que evitará que os carros precisem cruzar a pista. É nesse ponto que durante os finais de semana e feriados se formam longos congestionamentos.

— Sabemos que a estrada possui diversos problemas. O cruzamento de Ponta Negra é um deles. Como forma de melhorar o local estamos realizando a obra emergencial. Não é o ideal. Para desobstruir a via, precisaríamos duplicar o caminho de Macaé até São Pedro, mas não há recursos — afirma Henrique Ribeiro, presidente do DER.

Para quem segue viagem em direção à Região dos Lagos, o calvário continua logo à frente, onde começa a subida da Serra do Mato Grosso. Com árvores arqueadas umas sobre as outras, o início do caminho é o mais bonito de toda a extensão da RJ-106. No entanto, o problema da falta de acostamento é grave. Ao longo de seis quilômetros, não há sequer um local para os motoristas se abrigarem em caso de uma emergência — nem mesmo os canteiros tomados pelo matagal, como nos trechos anteriores, já que a pista fica espremida entre as montanhas.

Em um dos restaurantes ao longo da rodovia, a equipe de reportagem encontrou o vendedor Maurício Rocha, que utiliza a estrada todos os dias para ir de Saquarema até Niterói. Segundo ele, não há trecho pior do que a subida da Serra do Mato Grosso.

— Quando me aproximo da Serra já fico preocupado se o meu carro dará defeito. Às vezes, prefiro pagar o pedágio e ir mais seguro pela Via Lagos, mesmo tendo que percorrer uma distância maior. A estrada é muito útil, mas é perigosa. É o preço que se paga por não ter pedágio. Já cansei de ver acidentes no local, muitos deles com mortes — lamentou Rocha.

Nenhuma estrada estadual mata mais que a RJ-106. De acordo com o levantamento do DER, de janeiro até julho deste ano, 26 acidentes com mortes foram registrados, em um total de 868 ocorrências. A segunda colocada, a RJ-116 (Itaboraí-Friburgo), com extensão de 273 quilômetros, registrou 15 acidentes com mortes num total de 302 ocorrências. Os números do ano passado são ainda mais impressionantes. Foram 2.400 acidentes na RJ-106, 42 deles com mortes, contra 697 ocorrências, sendo 27 com mortes, na RJ-116, que também esteve na segunda colocação. Nos últimos três anos, somente no mês de agosto de 2012 não houve acidente com óbito na RJ-106.

Esses números são maiores do que os registrados, por exemplo, na Via Lagos, com extensão de 57 quilômetros. De 2012 até julho deste ano, foram registrados 474 acidentes, sendo que 26 terminaram com mortes.

— Não penso duas vezes em qual estrada optar se eu precisar ir ao Rio — diz o contador Anderson Vieira, que vai à capital três vezes por semana. — Sei que o pedágio é caro, mas não coloco minha vida em risco. Se tiver que ir até a capital, só vou pela Via Lagos.

O clima de tensão se completa com a ausência de cabines de policiamento ao longo da via. De São Gonçalo até São Pedro da Aldeia (cerca de 107 quilômetros), existe apenas uma cabine da Polícia Militar, que fica na Serra do Mato Grosso. No dia em que a equipe de reportagem passou pelo local, o subtenente Luiz Claudio Papagiani informou que não é comum atender ocorrências de motoristas pedindo socorro na região.

Se o número de policiais é baixo, o que é alto é quantidade de pardais e lombadas eletrônicas. No caminho até o município de Araruama (cerca de 85 quilômetros, saindo de São Gonçalo), há 18 radares. Na altura do quilômetro 61, há dois radares próximos um do outro com limites de velocidade diferentes (50km/h e 70km/h, respectivamente). Ambos estão posicionados em locais que não oferecem perigo à circulação de pessoas. As placas informando a presença do radar também estão muito próximas do local fiscalizado.

Segundo o vice-presidente da Federação de Convention & Visitors Bureaux, Radamés Muniz, a RJ-106 seria uma excelente via que poderia facilitar o acesso até o Aeroporto Internacional de Cabo Frio, mas, devido aos problemas apresentados, fica subutilizada:

— Como a RJ-106 dá acesso à Estrada da Praia Seca, em Saquarema, mais motoristas poderiam chegar rapidamente até o aeroporto. Isso tem um impacto direto na economia do estado, que poderia oferecer uma estrada melhor. Todo mundo prefere usar a Via Lagos, mesmo andando mais.

Muniz reclama também do descaso do estado, que não apresenta nenhum plano de recuperação da RJ-106:

— A última obra aconteceu há dez anos, quando duplicaram o trecho de São Gonçalo a Maricá. Mas é muito pouco. Como atrair motoristas para essa estrada? Todos preferem a tranquilidade da Via Lagos ao clima de tensão.

Renan França / O Globo

[caption id="attachment_50366" align="aligncenter" width="699"]
Motoristas enfrentam pistas esburacadas num dos trechos da RJ-106. Ao pavimento irregular, se somam falta de acostamento, sinalização precária e mato na beira da pista - Marcelo Piu - O Globo

Motoristas enfrentam pistas esburacadas num dos trechos da RJ-106. Ao pavimento irregular, se somam falta de acostamento, sinalização precária e mato na beira da pista - Marcelo Piu - O Globo

Motoristas enfrentam pistas esburacadas num dos trechos da RJ-106. Ao pavimento irregular, se somam falta de acostamento, sinalização precária e mato na beira da pista - Marcelo Piu - O Globo[/caption]
Tags »
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Fale pelo Whatsapp
Atendimento
Precisa de ajuda? fale conosco pelo Whatsapp