Quando se anda pelas ruas do Condomínio Carlos Alberto Soares de Freiras, o “Minha casa, minha vida” de Inoã, em Maricá, Região Metropolitana do Rio, tem-se até a impressão de que para muita gente o sonho da casa própria não era tão importante assim. Com 1.460 apartamentos, o local tem centenas deles ainda vazios, apesar de existir fila para o programa na prefeitura.
— A minha mãe de criação é uma que está na fila. A casa dela, perto do Centro, é numa área de risco. É um lugar horrível, com becos que a gente não consegue nem passar. Ela só ouve que não tem mais apartamento, que tem que esperar. Mas aqui no meu prédio só tem gente mesmo até o segundo andar. Lá para cima não tem quase ninguém — diz a dona de casa Adjailma de Azevedo Costa, de 29 anos, fazendo referência aos três últimos andares do bloco 4, no setor B.
[caption id="attachment_87550" align="aligncenter" width="448"]Morando com o marido desempregado e três filhos pequenos, Adjailma lava roupa para fora. A atividade mantém em dia as prestações de R$ 25 que paga pelo novo lar. Como a maioria dos outros moradores, ela chegou em novembro do ano passado, quase quatro meses depois da inauguração oficial, com os prédios ainda inacabados. Na época, o EXTRA mostrou que não havia rede de abastecimento de água.
Atrás do espaço ocupado pela lavadeira, um apartamento vazio ficou semanas aberto. Foi usado como garagem de motos. Ainda desocupado, teve a porta pregada para evitar invasões.
O empreendimento é dividido por setores. No A, quase 50 imóveis estão desocupados ou têm moradores que nunca aparecem. Mas o setor B é um dos que têm maior índice de imóveis vazios. No bloco 2, apenas nove dos 20 apartamentos têm famílias morando, ou seja, há apenas 45% de ocupação.
[caption id="attachment_87551" align="alignright" width="168"]— Em todos os prédios há apartamentos vazios. Eu estou com as chaves das caixas de correios aqui para entregar aos donos, quando eles chegarem. Não sei o que estão esperando — diz a auxiliar de cabeleireiro Bianca Costa, de 32.
Segundo síndico que não quis se identificar, há 300 imóveis vazios no condomínio.
— Nos prédios mais afastados, há invasores. Tem gente que entrou na fila, não conseguiu, viu vazio e veio — revela Bianca.
Pesquisa começa na segunda
A dona de casa Regina da Silva mora com quatro filhos e o marido desempregado no condomínio. Um imóvel na entrada do conjunto chama sua atenção:
— O vizinho que mora em cima da minha irmã só apareceu uma vez, trouxe uma geladeira e um sofá e nunca mais voltou. Sinal de que não precisa, mas está tirando o teto de um necessitado.
Segundo a prefeitura, quem não assinou o contrato está sendo substituído, mas há tramitação para aprovação de novo contrato. Para os que assinaram e não ocuparam, a Caixa Econômica abrirá processo para a retomada. Só após essa tramitação outras famílias podem ser aprovadas para substituição.
Ainda de acordo com o órgão, o prazo de 30 dias para as mudanças foi flexibilizado pelo problema de abastecimento de água e para não prejudicar o ano letivo das crianças. Além disso, pode variar caso a caso. Agentes da prefeitura vão aplicar formulários para identificar unidades não ocupadas a partir de segunda. O levantamento deve acabar em 15 dias úteis. Os formulários serão enviados para a Caixa. A prefeitura ressalta que ocupações irregulares “são consideradas como crimes federais e como tal serão tratadas”.
A Caixa informou que vem atuando com a prefeitura para agilizar o processo de ocupação das unidades.
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