13/05/2018 às 11h41min - Atualizada em 13/05/2018 às 11h42min

Mães de jovens mortos em chacina de Itaipuaçu buscam sobreviver diante da dor: 'Sem planos para o futuro'


Sávio Oliveira, Matheus Bittencourt e Marco Jonathan foram executados no dia 25 de março, no condomínio 'Minha Casa, Minha Vida' de Itaipuaçu [gallery columns="1" size="full" ids="156642"] O GLOBO- Todos os dias, a decisão de sair de casa é acompanhada por passos dolorosos. Ao deixar o prédio, Luciana Oliveira, de 46 anos, não consegue olhar para esquerda e, ao contornar o quarteirão, é o que está à direita que a impede de respirar. A churrasqueira onde o filho Sávio, de 20 anos, e outros quatro jovens foram executados fica ali, a 30 metros do apartamento onde tenta continuar vivendo, no condomínio Carlos Marighella, em Itaipuaçu. July Mary Silva, de 34 anos, e Michele Bittencourt, 37 anos, também margeiam, sem olhar, o local da tragédia. As mães de Marco Jonathan, de 17 anos, e Matheus, de 18, também não suportam a ideia de relembrar as cenas dos corpos dos meninos no chão da área comum do espaço. July, que também é vizinha do local, também precisa evitá-lo no dia a dia. Já Michele quebrou a promessa que havia feito a si mesma de não mais pisar ali para fazer o questionamento que vem tirando seu sono: "Por quê?". Na manhã do dia 17 de abril, as três mães compartilharam, com O GLOBO, suas dores e lutas e contaram como será passar o primeiro Dia das Mães sem seus filhos. - Acho que a certeza da impunidade aqui no Brasil faz as pessoas cometerem esse tipo de coisa. Acho que se as leis fossem mais severas as pessoas pensariam antes de fazer algo assim. É como se a vida deles não valesse nada, e morreram por nada. Eu me pergunto todos os dias o motivo. "Meu Deus, por quê? Por quê?". Não temos essa reposta -, conta. July também questiona a explicação da Polícia civil para o crime: - Dizem na delegacia que foi para impor medo. Medo de quê? Medo de cinco crianças, de cinco jovens? Cheios de vida, sonhos pela frente... Por quê? Até agora estamos sem respostas. Acho que até eles estão sem saber direito o porquê de terem feito isso - diz a mãe, que agora tenta realizar o sonho de Matheus, Sávio e Jonathan de expandir o projeto social criado por eles, o Bronx, para dar aulas de rap e outras atividades a crianças. O plano para o futuro é resistir Como fazer planos depois de uma tragédia como essa? Michele diz que, da mesma forma que os sonhos de Matheus foram silenciados com sua morte, os dela estão em suspenso. July e Luciana balançam a cabeça, em apoio: só uma mãe é capaz de entender o tamanho dessa dor. - O que me move é que tem que ser divulgado, tem que ser falado, para que o que aconteceu com eles não seja mais um na estatística. Meu filho merecia que eu estivesse aqui, falando dele. Antes de sua morte, eu tinha sonhos, planejava. Agora é um dia de cada vez. Por enquanto, o que eu vou fazer é sobreviver - afirma. Luciana também tenta recuperar "as pernas", que bambeiam desde a morte do filho mais novo. Ela não quis ver o corpo do rapaz, e ficou esperando em casa enquanto a perícia não terminava. Naquele dia, olhou da janela e viu dois corpos estirados no chão. Estaria Sávio entre os mortos? Ela preferiu não acreditar. Quando o filho mais velho identificou o irmão, só restava esperar. E assim fez, das 6h às 15h, quando a perícia enfim acabou, e os jovens foram levados. - Esperar foi muito difícil, foi uma angústia que não consigo explicar. Tenho me apegado a Deus, porque não tem como entender o que aconteceu. Eu não sei o porquê de matarem eles daquele jeito. Não entendo. Quando fizeram isso, já tinha sol, estava claro. Se estivesse escuro talvez tivéssemos uma resposta, mas já estava claro. Não tenho como entender isso. Eu me seguro em Deus e na minha família para conseguir continuar - completa Luciana. Segundo a Polícia Civil, três milicianos foram presos, no último dia 9 de abril, acusados de terem participado do crime que tirou a vida dos jovens em Maricá. Apontado como o autor dos disparos, João Paulo Firmino estava entre os presos. O trio foi localizado em Itaipuaçu, distrito de Maricá. Com Firmino, os policiais da Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSG) apreenderam uma pistola de calibre 380, o mesmo utilizado no crime. Os outros presos foram identificados como Flávio Ferreira Martins, conhecido como "Bimbinha", e Jefferson Moraes Ramos. Os agentes apreenderam dinheiro, carros, motos e armas com o trio. Ainda não foram identificados, porém, os mandantes do crime. Segundo as investigações, Firmino recebeu ordem para matar dois dos jovens, mas acabou executando outros três porque estavam juntos deles.
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