05/04/2013 às 12h49min - Atualizada em 05/04/2013 às 12h49min

Dupla função: Motoristas da Amparo sofrem com pressão

Motoristas reclamam da dupla função em ônibus da empresa maricaense. Cobradores estão sendo demitidos, segundo relatos de funcionários.

[caption id="attachment_10689" align="alignleft" width="300"]
Motoristas sofrem com a dupla função. (Imagem ilustrativa)

Motoristas sofrem com a dupla função. (Imagem ilustrativa)

Motoristas sofrem com a dupla função. (Imagem ilustrativa)[/caption]

EXCLUSIVO LSM | REPORTAGEM :: ROMÁRIO BARROS - Após o acidente que vitimou sete pessoas na Avenida Brasil nesta semana o assunto Dupla função voltou à tona. A Dupla função decorre da falta de regulamentação da profissão e da omissão de administradores, legisladores e órgãos gerenciadores do trânsito. A empresa maricaense conta com diversos ônibus, sem cobradores.

Terça-feira, 7h30. Destino: Castelo, no Rio de Janeiro. Meio de transporte: Tarifa.. Valor da passagem: R$12,. Forma de pagamento: dinheiro, R$20,00, que obviamente pede troco. Pessoa que irá receber e dar o troco: motorista.

É que nesses ônibus, que, na prática percorrem distâncias consideráveis, como os coletivos tradicionais, não há a presença de agentes de bordo, os chamados ‘cobradores’. Quem faz o recebimento do dinheiro ou observa a validação do cartão é o próprio motorista que, acumulando as funções de dirigir e receber, trafega com um olho no trânsito e outro nas notas, moedas e cartões.

Insegurança- A consequência dessa dupla-função, disseram os profissionais do volante, que preferiram não se identificar, temendo represálias e a perda de seus empregos, que o aumento do estresse e dos afastamentos por doenças relacionadas à dupla função é fato. A expressão dos motoristas entrevistados, que aparentava certa tensão, é um indicativo de como esses profissionais do transporte coletivo da cidade encaram a situação de não poderem contar com a presença do cobrador nos itinerários que percorrem diariamente, inclusive em linhas intermunicipais.

Um dos motivos pelos quais se veem forçados a exercer funções distintas da atribuição prevista para o cargo - conduzir veículos - é que essa profissão ainda não é regulamentada por lei. Segundo informações, tramitam atualmente no Congresso mais de 60 Projetos de Lei relacionados aos trabalhadores rodoviários, ferroviários e metroviários, versando sobre temas como regulamentação da profissão, jornada de trabalho, aposentadoria especial, insalubridade, penosidade, periculosidade e segurança, além de outras questões gerais relativas ao Código de Trânsito e à Previdência Social.

Alguns desses projetos estão parados no Congresso há mais de 30 anos, como é o caso da regulamentação da profissão de motorista.

Usuários também sofrem- Passageiros também reclamam da ausência do cobrador. "A falta do cobrador acaba fazendo com que tanto os idosos, gestantes e deficientes físicos, que têm a reserva de assentos assegurada na parte dianteira dos ônibus, quanto os demais usuários do transporte coletivo fiquem prejudicados, porque o espaço na parte dianteira do ônibus que fica antes da roleta é pequeno", aponta a usuária Sônia Guimarães.

Motoristas revelam sofrimento para cumprir rotina estressante- "É mais cansativo e estressante. Em muitos ônibus há a presença da placa 'proibido conversar com o motorista', pois entende-se que isso possa tirar a atenção de quem estiver dirigindo. Existe também o Código Brasileiro de Trânsito que proíbe conversar ao celular e dirigir ao mesmo tempo, mesmo se for utilizado o fone de ouvido. Mas e receber dinheiro dos passageiros e dar o troco, não tira a atenção não?", questiona um dos motoristas de ouvidos pelo Lei Seca Maricá.

Outro entrevistado afirmou que, para cumprir o horário estipulado para os itinerários e rotas, o recebimento das passagens deve ser feito mesmo com o veículo em movimento. Trocando em miúdos, os motoristas precisam receber dinheiro e dar troco e dirigir ao mesmo tempo. "Quando o pagamento é em moeda e o ponto de ônibus está cheio, a gente tem que recebê-las confiando na honestidade e na atenção da pessoa, pois existe um horário a ser cumprido e o pessoal, nem os passageiros nem o dono da empresa, quer saber porque atrasou", coloca.

De acordo com ele, "nesses momentos de pico a gente fica até meio perdido. Às vezes falta dinheiro para o valor total da passagem, e não é nem por má-fé, mas porque as moedas não foram recontadas. Mas quando acontece isso, de o dinheiro faltar, ninguém quer nem saber, as câmeras estão aí, sabe? Quem leva prejuízo é a gente, não é a empresa", lamenta.

Para este outro profissional, dirigir e receber as passagens também é um transtorno. "A dupla função faz com que as viagens, muitas vezes cansativas por causa do trânsito pesado, buracos nas ruas e motoristas imprudentes, fiquem ainda piores. Tudo isso acaba aumentando o estresse ao qual o motorista fica submetido. Não é fácil, mas a gente tem que se sujeitar a isso, fazer o quê. Esse negócio até já foi parar na justiça, mas nos deram um abono salarial pequeno e tudo ficou por isso mesmo", desabafa.


Tags »
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Fale pelo Whatsapp
Atendimento
Precisa de ajuda? fale conosco pelo Whatsapp