10/02/2014 às 20h03min - Atualizada em 10/02/2014 às 20h03min

Cinegrafista morto durante protesto vivia em Itaipuaçu

Santi, como Santiago era chamado na Band foi criado em Copacabana, mas optou por morar longe do barulho de Copa. Nos últimos anos, vivia na Praia de Itaipuaçu, em Maricá.

O cinegrafista da Rede Bandeirantes Santiago Ilídio Andrade, de 49 anos, teve morte cerebral atestada na manhã desta segunda-feira. Santiago está no Centro de Terapia Intensiva do Hospital municipal Souza Aguiar, no Centro, desde a quinta-feira da semana passada. Os médicos teriam feitos exames que mostraram que 90% do lado esquerdo do cérebro do cinegrafista estariam sem irrigação. Na porta do hospital, muitos amigos e colegas do cinegrafista choraram e lamentaram o acontecido. A Bandeirantes confirmou que a família de Santiago decidiu doar seus órgãos.

Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde informou que a morte encefálica foi diagnosticada nesta segunda-feira pela equipe de neurocirurgia do hospital. "A pedido da família, a secretaria torna público o agradecimento a todos os que torceram pelo seu restabelecimento e que, num ato de solidariedade, atenderam ao chamado para doar sangue ao Hemorio', diz trecho da nota.

Santiago foi atingido na cabeça por um rojão, teve afundamento craniano e perdeu parte da orelha esquerda e foi submetido a uma cirurgia de cerca de quatro horas. Dois drenos chegara a serem colocados na cabeça do cinegrafista para diminuir a pressão craniana, e no sábado uma tomografia realizada no hospital havia comprovado que a hemorragia intracraniana teria sido controlada.

Em entrevista ao "Bom Dia Brasil", a mulher do cinegrafista disse não acreditar que seu marido sobrevivesse ao ferimento que sofreu durante a manifestação:

— Quando eu entrei (no hospital), senti que ele não estava mais lá. Fiquei pensando que eu tenho que mostrar que ele não pode estar indo embora em vão. Meu marido é só mais uma pessoa, mas não quero que o nome dele seja esquecido — afirmou Arlita. O cinegrafista Santiago Andrade é descrito por colegas da Rede Bandeirantes no Rio, onde ele trabalhou por dez anos, como um profissional muito prudente.

Muito emocionado, o repórter da Bandeirantes Alexandre Tortoriello, que ganhou dois prêmios de mobilidade urbana em reportagens feitas com o cinegrafista Santiago Andrade, falou sobre o amigo. Alexandre, que teve a missão de fazer a cobertura nesta segunda-feira da morte cerebral do companheiro de equipe, destacou o excelente profissional que Santiago.

— O Santiago era a pessoa mais fácil de gostar que eu conheci até hoje. Tive a honra de trabalhar e ainda ganhar dois prêmios com ele. Era um profissional muito cuidadoso e que estava sempre tentando preparar o melhor equipamento, estava sempre disposto a tudo. Eu rezei para que ele se recuperasse, mas sabia que a situação dele era muito delicada. É difícil saber que não vou mais trabalhar com ele. Agora, ele está lá com Deus e peço que ele olhe por todos nós — disse Alexandre, que chorou muito ao dar esse depoimento aos jornalistas.

Preocupado com sua segurança, no fim do ano passado, chegou a frequentar um curso orientado por especialistas do Exército. Um dos focos do curso foi, exatamente, a segurança na cobertura de manifestações de rua, que ganharam força a partir de junho de 2013, com protestos contra o aumento das passagens de ônibus.

Experiência em lidar com a violência Santiago também tinha de sobra. Em seu histórico profissional, constam, além de protestos, várias operações policiais em favelas do Rio. Dedicado à cobertura de temas gerais, ele saía diariamente para pautas jornalísticas que iam de eventos esportivos a confrontos. Por vezes, ele participou também de coberturas especiais: duas delas sobre dificuldades enfrentadas por usuários de transporte público que renderam ao cinegrafista prêmios de reportagens sobre o tema mobilidade urbana, em 2010 e 2012, oferecidos pela Fetranspor.

Santi, como Santiago era chamado na Band, é flamenguista, é casado há 30 anos com Arlita Andrade e tem uma filha e três enteados. A filha seguiu os passos do pai e se formou em jornalismo. Mas nem tudo era jornalismo na vida profissional de Santi: — Ele já foi DJ — conta uma amiga e colega de trabalho.

Carioca, Santi foi criado em Copacabana. Mas optou por morar longe do barulho de Copa. Nos últimos anos, vivia na Praia de Itaipuaçu, em Maricá.

O GLOBO


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