28/09/2017 às 09h59min - Atualizada em 28/09/2017 às 09h59min

Mãe de Maricá conta como se recuperou da depressão pós-parto

[gallery columns="1" size="full" ids="133120"]

BBC BRASIL- Como uma mãe com um filho perfeito, lindo e saudável poderia estar triste? As pessoas não conseguem entender isso e te cobram", diz a professora Elenise Costa, de 37 anos, sobre a depressão pós-parto.

Na época com 34 anos e casada há dois, Elenise Costa sonhava com o nascimento do primeiro filho. A gravidez não foi fácil. Por causa de complicações decorrentes de endometriose e um mioma, Elenise teve que parar de trabalhar e ficar de repouso desde a 18ª semana de gestação.

"Na gravidez, já comecei a me sentir um pouco triste," diz. "Lembro que no dia do parto eu já me senti triste".

Era o início do período mais difícil da vida de Elenise, que foi diagnosticada com depressão após o nascimento do filho. Por algum tempo, ela sofreu sozinha. Elenise diz que só conseguiu contar para o marido o que estava sentindo quando o filho tinha 15 dias. Cansada, preocupada, com taquicardia e tremores, ela tinha vergonha de admitir que não estava feliz com o começo da maternidade.

Moradora de Maricá, município da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, ela aos poucos compartilhou o que estava vivendo com amigos próximos e familiares, mas não recebeu o apoio do qual precisava. "Ouvi de pessoas que achei que poderia contar coisas do tipo 'olha, fica bem porque você vai perder seu marido. Para de chorar porque o seu marido vai cansar'", relata.

Resistir a procurar atendimento psicológico durante a gravidez ou após o parto não é incomum entre mulheres. Um estudo em andamento da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) entrevistou 221 gestantes que fazem o pré-natal em uma unidade da Escola Nacional de Saúde Pública em Manguinhos, região carente do Rio. Entre as entrevistadas, 32% apresentaram sintomas depressivos. No entanto, menos da metade dessas mulheres aceitou ser avaliada por um profissional especializado - 52% se negaram a receber ajuda.

"A gente tem sempre uma visão de que o serviço de saúde não oferece [atendimento voltado para a saúde mental de gestantes]. E muitas vezes não oferece mesmo. Só que o que nós encontramos é algo que consideramos mais sério ainda: elas não querem", explica a pesquisadora Mariza Theme, responsável pelo estudo.

"O transtorno mental tem associado a ele um estigma muito grande. Esse estigma é uma das principais causas para a pessoa não procurar tratamento", diz.

[gallery columns="1" size="full" ids="133121"]

Saúde mental de grávidas e mães após o parto

O novo estudo da Fiocruz surgiu como um desdobramento do trabalho feito para a pesquisa Nascer no Brasil, que mostrou que uma em cada quatro mulheres que já tiveram filhos no país apresenta sintomas de depressão pós-parto. Para entender melhor o processo de mudanças na saúde mental perinatal (da gravidez ao pós-parto) de mulheres e por que algumas não procuram ajuda, a análise agora prevê que cada mãe incluída na pesquisa seja avaliada em três momentos diferentes: no início e no final da gestação, e depois que o bebê tem dois meses ou mais.

Os especialistas ressaltam a importância de identificar qualquer tipo de transtorno mental ainda na gravidez. Em uma pesquisa com 506 mulheres atendidas em unidades básicas de saúde da Zona Norte de São Paulo, 45% das que estavam grávidas e diagnosticadas com depressão vieram a apresentar sintomas também entre 6 a 9 meses após o parto.

Segundo o ginecologista Alexandre Faisal, pesquisador da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do estudo, as mulheres que apresentaram sintomas de depressão pós-parto moderada ou grave tinham menor confiança para cuidar do bebê. A pesquisa, que está para ser publicada e foca em mulheres em situação mais vulnerável, indica que mulheres que recebem acompanhamento desde a gestação podem ter menos chances de desenvolver problemas no pós-parto.

"Historicamente a depressão na gravidez e no pós-parto acabou ficando relegada para um plano secundário, quer pelo fato de o médico não ser treinado para diagnosticar, quer porque a paciente e a família não pedem socorro num momento tão difícil, por vergonha ou estigma social," explica.

"Agora as evidências todas sugerem que esse é um problema sério desse período [perinatal] e que também merece ser rastreado", diz. "Esse rastreamento permite a adoção de uma medida psicoterápica e medicamentos que vai prevenir ou diminuir o impacto negativo da doença".

Muitas mães, no entanto, temem as possíveis consequências do uso de medicamentos durante a gravidez ou amamentação, mesmo sob orientação médica. Faisal explica que os efeitos colaterais são menores do que os imaginados. "Esse risco não é zero, varia de acordo com o antidepressivo e em relação ao trimestre [da gravidez], mas é um risco absoluto muito pequeno. E a contrapartida disso é que, se a pessoa não usa, ela pode ter complicações para ela e para a gravidez".

[gallery columns="1" size="full" ids="133122"]

Tags »
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Fale pelo Whatsapp
Atendimento
Precisa de ajuda? fale conosco pelo Whatsapp