Uma reportagem divulgada neste domingo, dia 17, pelo Jornal Folha de São Paulo, fala sobre a gestão petista em Maricá e da fartura do Pré-Sal no município.
Na entrada de Maricá, na região metropolitana do Rio, uma placa alardeia que, em seis anos, a prefeitura asfaltou 402 quilômetros de ruas. "É tanto que dá para ir até São Paulo!", conclui o texto.
Na contramão do Brasil, o município tem experimentado expressivo aumento de receita. Maricá é a maior beneficiada por royalties do campo de Lula, no présal, que começou a operar em 2010 e hoje é o maior produtor do país.
A arrecadação com royalties e participações especiais (taxas cobradas sobre a produção de petróleo) cresceu 380% –chegando, em 2015 a R$ 247 milhões, sem considerar a participação especial do quarto trimestre. A receita representa mais da metade do orçamento municipal.
A fartura aumentou os gastos com obras, custeio e publicidade. Críticos avaliam que a cidade, administrada pelo presidente do PTRJ, Washington Quaquá, repete erros de municípios que esbanjaram gastos no auge do petróleo e, agora, amargam perda de receita por causa da queda do preço do barril. O petista afirma que a cidade só tinha 60 quilômetros de ruas asfaltadas. Sua principal bandeira, diz, é transformar Maricá em "um laboratório da administração de esquerda", para preparar a cidade para o "póspetróleo".
Desde 2013, os royalties de Lula sustentam um programa chamado Moeda Social Mumbuca, que garante R$ 85 por mês a famílias de baixa renda ao custo total de R$ 1,3 milhão mensais.
Em dezembro, a prefeitura ampliou a cobertura da Mumbuca para toda a população, garantindo R$ 10 por mês a cada morador. Foi o primeiro município a adotar o célebre programa de renda mínima de Eduardo Suplicy, fato muito comemorado por ele.
Em 2014, Maricá adotou o passe livre no transporte público. O programa vale só para algumas linhas, resultado de ação movida pela empresa de ônibus que tem a concessão. "O futuro da economia é solidário", diz Quaquá. Ele planeja ampliar a cobertura da Mumbuca para toda a população "assim que o petróleo voltar a subir" e fomentar a criação de cooperativas voltadas à produção local.
Análise da consultoria Aequus, porém, indica que gastos com custeio vêm crescendo a taxas superiores a 20% ao ano. Embora o investimento também cresça, o município deve se preocupar com a manutenção dos investimentos, diz o economista da Aequus Luiz Eduardo Dalfior. "Como [o royalty] é uma renda finita e incerta, devese criar reserva e ter cuidado para não comprometer muita receita no futuro", diz.
"A prefeitura gasta com coisas supérfluas e tem deixado em segundo plano questões como saúde e educação", critica Wilson Alcoforado, opositor e pré candidato à Câmara Municipal pelo PR.
Ele cita um contrato de R$ 15 milhões de publicidade e patrocínio à escola de samba Grande Rio em 2014, para enredo sobre o município. "Parece que só tem dinheiro para botar asfalto e ônibus de graça. No hospital, às vezes, nem tem médico e mandam a gente para casa", disse o mecânico Alexandre Campos, 36, após princípio de tumulto por demora no Hospital Municipal Conde Modesto Leal, na quinta (14).
Quaquá alega que Maricá vem atraindo pacientes de municípios vizinhos. A prefeitura promete inaugurar no fim do ano o Hospital Municipal Dr. Ernesto Che Guevara, investimento de cerca de R$ 80 milhões.