13/08/2018 às 14h42min - Atualizada em 13/08/2018 às 19h59min

Operação Saigon: Mandado de prisão expedido contra Policial Civil da Delegacia de Maricá


Dezessete pessoas foram presas, duas delas em flagrante, nesta segunda-feira em uma operação da Polícia Civil, do Ministério Público do Rio de Janeiro e da Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança contra uma quadrilha que operava o jogo do bicho em São Gonçalo, na Região Metropolitana. Ao todo, a organização criminosa, que já operava há pelo menos três gerações, movimentava cerca de R$ 10 milhões por mês em cerca de 300 pontos de aposta do município. Foram expedidos 23 mandados de prisão, inclusive contra agentes da Polícia Militar e da Polícia Civil. A operação foi batizada de Saigon, em referência ao município onde a organização criminosa atuava. O alvo foi a família de Renee Coutinho, conhecida como Dona Renee e apontada como a matriarca do bicho naquele município. Ela, que morreu durante as investigações, controlava com a família a organização criminosa. Oito PMs, entre ex-agentes expulsos ou reformados da corporação, foram identificados. Seis foram presos. E três policiais civis foram identificados, com dois deles presos nesta segunda. Ao todo, dos 23 mandados de prisão pedidos, 15 foram cumpridos e oito pessoas são consideradas foragidas. Um dos mandados de prisão foi expedido contra um servidor que está atualmente lotado na Delegacia de Maricá. Na época da investigação do crime, em 2014, ele estava em uma Delegacia de São Gonçalo. A Delegacia de Maricá não foi alvo de investigações dessa operação. O servidor, que não teve o nome revelado, chegou a 82ª DP em Março de 2018. Ele se apresentou durante a tarde e o mandado de prisão foi cumprido. A investigação ocorre há cerca de um ano e meio. Luiz Anderson e Alexandre são os principais responsáveis pela organização criminosa há dez anos. A quadrilha tinha uma folha de pagamento mensal de aproximadamente R$ 200 mil. A investigação utilizou, além de diligências, intercepção telefônica, agentes infiltrados e até delação premiada. A operação contou com 35 delegados e 216 agentes policiais, além de representantes do Ministério Público do Rio de Janeiro. — Prendemos o núcleo duro, aquele que tinha o poder de comando da organização criminosa, notadamente Luís Anderson e Alexandre, que herdaram esse território e multiplicaram o poder. A operação não prendeu o "Aranha", aquele indivíduo que fica fazendo a aposta. Prendemos o núcleo duro e o braço armado, composto por agentes e ex-agentes de segurança, que faziam interface com as delegacias, transporte de dinheiro e segurança. Essa organização criminosa era tão organizada que contava com setor específico de reclamação — afirmou o delegado Cristiano Maia, da Corregedoria da Polícia Civil. Planos de saúde e odontológico Uma empresa de fachada garantia planos de saúde e odontológico. O dono dessa empresa foi identificado como Allan Kardec, policial civil aposentado, considerado o elo entre os criminosos e e as delegacias de polícia. Havia também um setor de reclamações. Ele transitava pelas delegacias, incumbidas de reprimir a prática da contravenção do jogo do bicho. Segundo delegado, os agentes públicos também eram encarregados de recuperar os pules (comprovantes de aposta do jogo do bicho) que eventualmente eram apreendidos. Hoje, o jogo do bicho operado por essa organização funcionava como uma espécie de franquia, explica Cristiano Maia: — Os diversos locais funcionavam como uma espécie de franquia: aquele que explorava um local não poderia jamais repassar o ponto sem a aprovação dos superiores. Naquele local, considerando a antiguidade da organização, havia um grau de confiabilidade da população. Já o delegado Leonardo Borges, também da Corregedoria, acrescentou a dificuldade de de combater o jogo do bicho pela legislação em que o crime está inserido: — Ele é uma contravenção, não tem uma resposta penal à altura. Só que essa atividade só se sustenta com a prática de uma série de crimes correlatos. Uma banca não vai ter êxito se ela não corromper agentes de segurança. Homicídios são praticados para se manter no poder — explica. Apresentado como o número 1 da organização, Luis Anderson chegou a ser alvo das investigações da morte da juíza Patrícia Acioli, mas não foi adiante. Apesar disso, o criminoso já chegou a ficar preso durante cinco anos por um Homicídio. Com Luis Anderson, em Niterói, foram apreendidos R$ 50 mil e jóias. Já com Alexandre, em Cabo Frio, foram apreendidos um veículo e material de contabilidade, o que comprova que a organização continuava atuando. O núcleo duro da organização teve bens e contas bancárias bloqueadas. A organização criminosa, apesar de empresarial, tinha características familiares. Os irmãos Luis Anderson Azeredo Coutinho e Alexandre de Azeredo Coutinho assumiram o comando do grupo após a morte de sua avó, identificada apenas como dona Renne. Ela, por sua vez, assumiu o comando após a morte de seu marido, identificado como "Nonô". — Essa organização já funcionava com esses personagens há pelo menos 10 anos. Eles já receberam herança de família. O pai foi assassinado há dois anos. Posteriormente, a matriarca da família foi responsável, como um negócio de família. São no mínimo três gerações responsáveis por esse esquema — disse o promotor Rômulo Santos, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco/MPRJ). Investigações continuam A investigação continua de acordo com o MPRJ. A segunda fase, já iniciada, busca identificar outros agentes públicos suspeitos de participar da organização, além de investigar a lavagem de dinheiro pela quadrilha. Ao todo, 53 pessoas foram denunciadas por organização criminosa constituída para a prática dos crimes de corrupção ativa, passiva e peculato. Entre os denunciados, não há apostadores, pois a investigação foi direcionada para os chefes e os escalões superiores da organização criminosa. Como forma de intimidação, utilizavam armas de fogo. O Gaeco dividiu os denunciados em quatro grupos: o núcleo principal (formado pelos chefes e operadores), o braço armado (policiais e seguranças), o segundo escalão (prestavam assessoramento a alguns denunciados) e o terceiro escalão (exerciam funções administrativas).
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